Nasce o Sol ao Dois de Julho, brilha mais que no primeiro…”. Assim inicia o hino da Independência do Brasil na Bahia, recordando uma história construída com coragem popular, batalhas sangrentas e um desejo coletivo de liberdade. Isso porque a proclamação feita por Dom Pedro I, em 7 de Setembro de 1822, não encerrou os conflitos. O Dois de Julho marca o fim da luta que garantiu a independência em 1823 e consolidou um novo processo de emancipação política no país.
“A data para a gente tem uma importância significativa, porque é quando acontece, acima de tudo, a independência do Brasil na Bahia. Para muitos historiadores, é onde, de fato, se consolida o fim da luta, pois acontece, definitivamente, a expulsão das tropas portuguesas aqui em Salvador, mais especificamente em Pirajá, no atual bairro da Joana Angélica e também em Cachoeira, espaços que foram efetivamente de conflitos e de resistências”, descreveu o historiador Iure Alcântara.É um fenômeno que libertou o Brasil do domínio português de forma definitiva, que garantiu a unidade nacional, já que o sul do Brasil já estava liberto, digamos assim, desde setembro de 1922, e havia um risco de que o nordeste brasileiro continuasse sob a tutela de Portugal. Então o movimento na Bahia, o Dois de Julho de 1823, garante essa unidade nacional e garante definitivamente a libertação do país do domínio colonial de Portugal”, continua outro historiador, Ricardo Carvalho. A luta foi marcada, sobretudo, pela participação popular. Carvalho ressalta que apenas os homens enviados por Dom Pedro eram militares, os demais era pessoas do povo.
“É um fenômeno regido e orientado por mulheres, sertanejos, negros, libertos ou não, por trabalhadores, pescadores, marisqueiras, negros alforriados, negros escravizados, soldados do povo, artesãos, sertanejos, como é o caso do encorado de Pedrão, que é um grupo de sertanejos que lutou na independência da Bahia”, destacou. “O baiano pode muito bem bater no peito e dizer ‘Nós, o povo baiano, libertamos o Brasil”, afirmou Carvalho .Alcântara, por sua vez, reforça que a luta pela Independência contou, sobretudo, com o protagonismo feminino. “Essa guerra tem uma importância social e histórica muito grande, sobretudo para as mulheres. A gente vê aí Maria Filipa, Joana Angélica, Maria Quitéria, que são quem chamamos de heroínas da independência. E toda essa mobilização, toda essa revolta, todo esse processo de independência, tem a Bahia como um palco”, descreveu. Capítulos da Independência
Salvador foi a última grande cidade a ser libertada — só em 2 de julho de 1823 os portugueses abandonaram o território, deixando o Brasil definitivamente independente na prática. Depois, os cortejos começaram a tomar as ruas da capital, saindo da Lapinha em direção ao Campo Grande, com figuras simbólicas, representações do povo e da força popular.
Até mesmo as manifestações foram se modificando com o passar dos anos, mas com o mesmo objetivo, que é manter viva a história e a representatividade do povo e da Independência. Os desfiles cívicos passaram por algumas mudanças. Por exemplo, as heroínas ganharam um destaque maior, passou-se a trazer a perspectiva do caboclo e da cabocla e do indígena nesse processo. Há também uma perspectiva política como um símbolo de luta. Sindicatos de várias categorias acabam indo para as mobilizações para tentar pressionar as entidades políticas. O presidente Lula sempre vem aqui no Dois de Julho para tentar trazer a memória histórica da luta”, descreveu Iure.
“Hoje esse movimento é tanto de rememorar a Bahia como palco de resistência, como também de pensar as lutas que se tem hoje contra qualquer tirania”, continuou o historiador, reforçando um trecho emblemático que perpetua até hoje no hino da Independência do Brasil na Bahia e que descreve e resume bem a vitória: “Com tiranos não combinam brasileiros, brasileiros corações”.